segunda-feira, 21 de março de 2011

A FORMA DAS PALAVRAS

Denise é uma menina que gosta de imaginar coisas. Ela imagina de tudo. Mas o que ela mais gosta de imaginar é a forma das palavras que não têm forma. Por exemplo, a palavra “você”, para Denise, tem a forma de um doce de coco liso e triangular; já a palavra “trânsito” tem a forma de um pirulito comprido e colorido. Falando assim parece estranho, mas para Denise isso é normal. Bem, “normal”, para Denise, tem formato de pastel. Nada escapa da imaginação de Denise. Dentro da cabeça dela tudo tem contorno, cor, peso e tamanho. “Tudo”, para ela, parece uma maçaroca de feijão preto com farinha. Certa vez, quando a mãe de Denise lhe contava uma história, surgiu a palavra “verdade”. Denise cismou que queria comer a “verdade” porque a “verdade” parecia um pudim de caramelo com calda de morango. A mãe da menina não entendeu nada... “Como assim, comer a verdade? Você está doida, Denise?”. “Não, mãe! É que a verdade parece ser tão gostosa... Será que vende verdade no supermercado?”. E aquela história de Denise querer comer a verdade durou um tempão. Ela procurou a verdade em tudo quanto foi lugar, mas não encontrou nada parecido com aquilo que ela imaginava dentro da sua cabeça. E a vontade só passou quando Denise escutou sua professora de Português dizer a palavra “certeza”. Daí em diante, Denise sentiu vontade de comer a “certeza” porque a “certeza” parecia um saquinho cheio de leite condensado.

"A forma das Palavras" - da série "Papo Furado"
Autora: Silvia Logullo

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